"hoje é dia de coisas simples
(Ai de mim! Que desgraça!
O creme da terra não voltará a aparecer!)
coisas simples como ir contigo ao restaurante
ler o horóscopo e os pequenos escândalos
folhear revistas pornográficas e
demorarmo-nos dentro da banheira
na aldeia pouco há a fazer
falaremos do tempo com os olhos presos dentro das chávenas
inventaremos palavras cruzadas na areia... jogos
e murmúrios de dedos por baixo da mesa
beberemos café
sorriremos às pessoas e às coisas
caminharemos lado a lado os ombros tocando-se
(se estivesses aqui!)
em silêncio olharíamos a foz do rio
e o brincar agitado do sol nas mãos das crianças descalças
hoje"
Al Berto
quarta-feira, 30 de julho de 2014
domingo, 13 de julho de 2014
CHORAM CARTAS NOS MEUS OLHOS
"Dizes-me de longe, do lugar onde me encontras,
que todas as sombras sou eu.
Não te dás com a net:
cara, perfile, mural – são pouco para tanto de ti.
Escreves-me cartas. Cartas validadas com selo maior:
adivinho o teu rosto no canto superior.
Abro o que dobraste e cheiro-te em alfazema e rosmaninho.
Leio o que me dizes em letras sem cor:
“Preciso de ti; és a água e a terra e o fogo que me dão alimento;
é o teu ar que me faz respirar.”
“ Acode-me amor, em abraços de pele e em suor que criamos.”
“ Acode-me amor.”
“Durmo acompanhada da memória de ti.”
“Beijo-te na fragância dos teus beijos, nos beijos com que sonhei.”
“ Beija-me amor. Deixa-me toda – nua - na tua boca.”
“Amo-te muito, muitinho.”
“Preciso de ti. Dá-me um abraço – promete!”
Sabes que choras nos meus olhos, naqueles que choram por ti.
Nos olhos com que te vejo quando recebo cartas de ti.
Queremos um abraço.
Prometo!"
Fernando Morgado
INTERSTÍCIO DE UM SEGUNDO PORVIR
Ontem recebi-te nas minhas mãos
E os meus olhos perderam-se na exuberância da tua paixão
Quis tocar-te, e cada palavra tremeu a minha razão
E a distância doeu, no emaranhado, na recordação
Ontem lembrei-te, envolto no hiato
Arrasta-se o desejo vivido
Agora perdido nesse interstício
Em que te não vejo, em que te sinto
Nessas parcas palavras em papel desbotado
Espera-me o tempo, no hoje, no amanhã
Em que peço ao momento um segundo do porvir
E de olhos cercados resguardo da chuva
A incerteza de te voltar a tocar, usar... de te Amar...
(meu)
E os meus olhos perderam-se na exuberância da tua paixão
Quis tocar-te, e cada palavra tremeu a minha razão
E a distância doeu, no emaranhado, na recordação
Ontem lembrei-te, envolto no hiato
Arrasta-se o desejo vivido
Agora perdido nesse interstício
Em que te não vejo, em que te sinto
Nessas parcas palavras em papel desbotado
Espera-me o tempo, no hoje, no amanhã
Em que peço ao momento um segundo do porvir
E de olhos cercados resguardo da chuva
A incerteza de te voltar a tocar, usar... de te Amar...
(meu)
quinta-feira, 10 de julho de 2014
EÇA DE QUEIROZ
"O BEM E O MAL"
- do País da Luz -
“ O diamante, se tivesse vida e pudesse,
fugiria ao sacrifício da lapidação.
Nisso estaria o seu bem, pelo seu sossego.
Entretanto, continuaria a ser pouco mais
do que um seixo vulgar de ribeira areenta;
enquanto que, depois da lapidação dolorosa,
passa a ser um pedaço de luz materializada,
como que um fragmento de estrela,
de preço inestimável.
Qual era o bem ? Qual era o mal ?
Ora, aqui fica uma incógnita
de que eu gostaria de conhecer a definição,
dada pelos sábios da Terra,
onde também tive pretensões
de saber alguma coisa !... ”
Eça de Queiroz
- do País da Luz -
“ O diamante, se tivesse vida e pudesse,
fugiria ao sacrifício da lapidação.
Nisso estaria o seu bem, pelo seu sossego.
Entretanto, continuaria a ser pouco mais
do que um seixo vulgar de ribeira areenta;
enquanto que, depois da lapidação dolorosa,
passa a ser um pedaço de luz materializada,
como que um fragmento de estrela,
de preço inestimável.
Qual era o bem ? Qual era o mal ?
Ora, aqui fica uma incógnita
de que eu gostaria de conhecer a definição,
dada pelos sábios da Terra,
onde também tive pretensões
de saber alguma coisa !... ”
Eça de Queiroz
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